Encontro festivo
Aquele era um
dia especial para Amaro. Após três semanas de intenso trabalho, retornaria para
casa e para sua família. Estava tão ansioso para rever seus familiares que mal
se continha em sua mesa de escritório. Como prometera para sua esposa,
conseguiu cumprir integralmente o acordo que fizera com a empresa e dedicou
grande parte de suas férias a colocar as documentações em dia. Após as 18
horas, seria um homem livre novamente.
Comentava,
extasiado, com seus colegas o encontro festivo que teria com sua família na
área da piscina do condomínio. Aquela tinha sido uma conquista hercúlea em sua
vida. Poupara durante anos para dar entrada no luxuoso apartamento no qual
planejara dedicar o resto de sua existência ao lado de todos que amava. Seriam
inúmeros churrascos, festas, brincadeiras e cantarias. Era o lugar perfeito
para realizar sonhos. Já podia imaginar o quanto deveria estar decorado para
recepcioná-lo à noite. Contava os segundos, roendo a alma.
Independente
do que fazia, pausava seus afazeres ao olhar o retrato de sua família que
decorava a mesa entupida de papelada. Eram ao todo cinco no retrato: Amaro, sua
esposa Moema e seus três filhos: Layla, Felipe e Lukas. Este último com apenas
três anos de idade e muito amor pelo pai. Alegrava-se sobremaneira ao vê-lo
chegar do serviço e logo pulava em seu colo, buscando seu carinho. Da mesma
forma, todos os outros filhos o amavam, bem como sua esposa. Não seria possível
voltar para casa sem comprar presentes para todos. Decidido, organizou sua mesa
e, às 18 horas em ponto, partiu para o shopping à procura dos mimos ideais.
Para sua
esposa Moema comprou uma lindíssima joia – e, diga-se de passagem, caríssima –
que ornaria sua beleza tal qual uma das antigas rainhas da História. Para os
filhos mais velhos foi fácil de escolher; aparelhos eletrônicos de última
geração. Eles adoravam tecnologia e certamente louvariam a sábia escolha do
pai. Difícil foi encontrar o presente perfeito para o pequeno Lukas. Após
exaustivamente circular pelas melhores lojas de brinquedo, achou um item que
lhe saltou aos olhos: um delicado ursinho de pelúcia. Sabia que seu filho mais
novo se agradava com pelúcias, mas relutou em comprar-lhe mais uma. Enfim, era
o que lhe agradava então não se deveria mexer em time que está a vencer.
Por último,
passou em uma papelaria e comprou belíssimos cartões de presente e os preencheu
com muito sentimento. Mesmo não sendo tão bom com as palavras, Amaro
esforçou-se para fazer seu melhor. Satisfeito, levou os pacotes para seu carro
e partiu para casa. Ouvindo uma seleção de músicas marcantes que gravara com
seus filhos para viajar, rumou imaginando que grandiosa festa o aguardava na
piscina. Abraçaria a todos e esqueceria as lutas desse mundo.
Acionou o
portão eletrônico e estacionou em sua vaga na garagem. Queria muito ir direto
para a festa, mas decidira subir ao seu apartamento para arrumar-se melhor.
Assobiando sua canção favorita no elevador, chegou até seu andar: o décimo
terceiro. Seu coração disparou quando encaixou a chave na fechadura e rodou.
Abriu a porta e encontrou o apartamento da forma como deixou. Estava tudo
silencioso. Correu até o banheiro repetindo para si mesmo:
- Rápido, Amaro.
Eles te esperam na piscina!
Despiu-se e
tomou seu banho celeremente. Secou-se, escolheu sua melhor roupa e perfumou-se.
Ajeitou seu cabelo e, decidido, disse novamente para si mesmo diante do
espelho:
- Chegou a
hora! Vamos para a festa!
Amaro passou
pela sala, que apesar de sua impressão deturpada, continuava em estado caótico.
Tocou os presentes que deixou no sofá, o único móvel que permanecia intacto.
Caminhou até a sacada de seu apartamento e subiu no parapeito e retirou um pedaço
dobrado de jornal que guardava há muitos dias. Nele era possível ler a seguinte
manchete:
Mulher e
filhos morrem em horrível acidente na Marginal.
Beijando o
jornal, olha para baixo e vê a piscina do condomínio. Abre seus braços e vai sorrindo ao
encontro de sua família que, excitadíssima, aguardava a chegada de Amaro. E a
festa aconteceu na mente daquele homem.
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